Volodymyr Zelensky critica a posição de neutralidade do presidente Bolsonaro na guerra
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, deu uma entrevista exclusiva nesta terça-feira (19) à correspondente da Globo Raquel Krähenbühl. Ele contou detalhes sobre o telefonema de segunda-feira (18) com o presidente Jair Bolsonaro.
Zelensky criticou a neutralidade do Brasil decidida por Bolsonaro em relação ao conflito e comparou a posição do presidente Bolsonaro à de líderes que ficaram neutros durante o início da Segunda Guerra Mundial. Foi a primeira entrevista de Zelensky a um veículo de imprensa da América Latina desde o início da guerra.
“Ontem eu falei com o presidente Bolsonaro e sou grato a ele por essa conversa. Não foi a minha primeira conversa com o presidente do Brasil. Eu não apoio a posição dele de neutralidade. Eu não acredito que alguém possa se manter neutro quando há uma guerra no mundo”, diz Zelensky.
O presidente da Ucrânia continua: “Vamos pensar sobre a Segunda Guerra Mundial. Foi assim. Muitos líderes ficaram neutros num primeiro momento. Isso permitiu que os fascistas engolissem metade da Europa e se expandissem mais e mais, capturando toda a Europa. Isso aconteceu por causa da neutralidade. Ninguém pode ficar no meio do caminho, ninguém pode dizer ‘vou ser um mediador’. Mediador de quê? Um mediador na guerra? Entre quem? A guerra não é entre a Ucrânia e a Rússia, é a guerra da Rússia contra o povo ucraniano. Porque, mais uma vez, eles estão no nosso território. Nós não chegaremos a um meio-termo porque um país declarou guerra contra o outro. Não. Um país capturou uma parte do nosso território há oito anos. E nessa época havia muitas pessoas que queriam ser mediadoras e permanecer neutras. Por causa disso, permitiram, desde 2014, que a Rússia fizesse essa segunda onda de invasão e eles estão invadindo outras partes. Esse é o significado de ‘neutralidade’”, afirma.
Zelensky completa: “Portanto, eu não apoio essa posição. Eu disse isso para o presidente: ‘Preciso de uma posição do Brasil. Eu conto com o seu povo, eu sei que tipo de pessoas estão lá, elas são maravilhosas. Eu tenho certeza de que elas apoiam os mesmos valores que nós apoiamos. Independentemente da língua que falamos. Somos um só povo’. Nós respeitamos nossos vizinhos. Aqui, meu vizinho tem filhos e eu o ajudo quando ele precisa, quando os filhos ficam doentes. Temos o mesmo sentimento. Só queremos viver e respeitar as leis e, assim, sermos respeitados. Queremos trabalhar e alimentar nossos filhos, isso nos faz humanos. Não estamos tão longe assim uns dos outros, não há diferença entre os nossos valores, só há distância em quilômetros. E, por isso, acredito que o Brasil é como qualquer outro país da América Latina”.
Volodymyr Zelensky — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução
Volodymyr Zelensky afirma que essa é sua primeira entrevista para a América Latina: “Estou muito satisfeito com isso. Agradeço ao apoio da mídia, que é muito importante. Mas precisamos do apoio que mencionei ontem ao presidente, eu disse para ele: ‘Queremos o apoio do Brasil’. Eu disse: ‘Se amanhã alguém atacar vocês, não ficaremos neutros, independentemente do histórico da nossa relação com esse país que venha a violar a sua soberania. Se alguém capturar a sua terra, matar o seu povo, estuprar as suas mulheres, torturar as suas crianças, como poderei dizer que sou neutro? Eu não tenho esse direito, esse é o mundo moderno’. Escolhendo a neutralidade, permitimos ao senhor Putin pensar que não está sozinho neste mundo, só isso. E as outras coisas, relações comerciais, são secundárias. Isso se desenvolve. Mas é preciso haver respeito pelo povo, de um país pelo outro, de um líder pelo outro. Nesse caso, temos questões de economia, ecologia, energia, questões que vamos resolver. Mas, antes de tudo, é preciso perguntar: ‘Quem é você neste mundo?’”.
Repórter: O que que ele te falou nessa conversa? Como ele te respondeu?
Zelensky: “Ele me disse que apoia a soberania e a integridade territorial da Ucrânia. Eu quero acreditar nisso. Ele me falou assim: ‘O Brasil realmente compreende a dor do que está acontecendo com vocês, mas a nossa posição é neutra’”.
Os melhores momentos desta entrevista exclusiva com o presidente da Ucrânia você verá no domingo (24) no Fantástico. E a GloboNews exibe a íntegra no Especial de Domingo.
fonte: Jornal Nacional