Defensoria Pública analisa ação indenizatória para família do paciente que teve rim entregue em saco plástico na BA
A Defensoria Pública da Bahia (DPE-BA) informou, nesta segunda-feira (1°), que tem trabalhadoidentifica os danos causados à família do paciente que teve o rim entregue dentro de um saco plástico, no Hospital Menandro de Faria (HGMF), em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador. O objetivo é propor uma ação indenizatória na área cível.
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De acordo com o DPE-BA, o processo de identificação incluiu o levantamento de informações e a análise da melhor forma de atuação.
Além dessas medidas, na área administrativa, a instituição enviou comunicado ao hospital com solicitação de respostas e informações sobre responsabilização dos agentes públicos envolvidos.
A Defensoria também orientou sobre a possibilidade de ingresso em uma ação criminal de responsabilização, a qual a competência para abertura de investigação é do Ministério Público da Bahia (MP-BA).
O jovem Jeferson Oliveira Bispo, entregador por aplicativo, que foi baleado e passou por cirurgia para remoção de um dos rins atingidos no dia 22 de julho, em Lauro de Freitas.
O DPE-BA começou a acompanhar o caso após a família procurar a instituição e informar que o Hospital Geral Menandro de Faria teria entregado em um saco plástico o órgão removido para a companheira de Jeferson.
Na terça-feira (26), a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) admitiu que houve erro do Hospital Menandro de Faria (HGMF) no procedimento. No entanto, não informou a família o motivo do órgão ter sido entregue, nem se o rim do paciente havia sido atingido por algum projétil de arma de fogo.
Um dia depois de admitir que houve erro do hospital, a Sesab exonerou o diretor geral da unidade. A saída de Ramon Nelson Bezerra de Lima Souza foi publicada no Diário Oficial do Estado (DOE) e o diretor Vicente Miranda Borges acumulou o cargo de diretor geral virando responsável pela unidade, ao menos provisoriamente.
Entenda o caso
Jeferson Oliveira Bispo é motoboy e trabalha com entrega de alimentos por meio de aplicativo. Ele foi baleado após ser abordado por homens armados quando passava por uma das ruas do bairro de Itinga.
Moradores socorreram o jovem para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Um adolescente foi aprendido, no mesmo dia do crime, suspeito de envolvimento na tentativa de homicídio contra Jeferson.
Por causa da gravidade do ferimento, Jeferson foi transferido para o hospital Menandro de Faria. Na unidade, os médicos não encontraram o projétil que atingiu o jovem, mas fizeram uma cirurgia para conter o sangramento.
A namorada de Jeferson, Andreza Silva, o acompanhava nos atendimentos. Ela contou que foi chamada pela equipe médica da unidade, e foi informada de que precisaria pegar “uma peça do namorado”.
Ao chegar à área do hospital em que o material seria retirado, ela percebeu que estava segurando o rim de Jeferson e ficou assustada. Segundo Andreza, o órgão foi entregue junto com uma solicitação de exame de anatomia patológica, e a indicação de clínicas onde o procedimento poderia ser feito.
“Deram um saco na minha mão e diziam que era uma peça. Depois disso, ela [médica] veio dizer que era o rim dele. Até então, a gente não sabia de nada disso e só soube depois da visita que era o rim. Isso foi no sábado [23], e ela falou que até segunda [25], a gente tinha que fazer esse exame”.
Andreza disse que a médica não explicou o que fazer com o órgão. Segundo ela, a médica disse que a jovem não precisava ficar assustada com a situação, que era normal que pessoas ficassem sem um dos rins.Jovem é baleado, perde rim e hospital entrega órgão à família em saco plástico na Bahia — Foto: Arquivo pessoal
Realização de exames
O Hospital Geral Menandro de Faria explicou que o órgão foi entregue aos familiares para realização de uma biópsia, porque a unidade não possui laboratório de anatomia patológica. Inicialmente, antes de informar que apura o caso, a Sesab confirmou a entrega do material à família.
Em nota, a secretaria detalhou que a família de Jeferson recebeu indicações de onde levar o rim para fazer a biópsia pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e que a unidade procurou a família para tirar dúvidas sobre os protocolos adotados.
Já nesta terça, a pasta reconheceu que houve uma falha no fluxo do atendimento, que foi corrigida. Além disso, reforçou que o material foi entregue novamente ao hospital que providenciará a biópsia.
O presidente do Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremeb), Otávio Marambaia, afirmou que o rim de Jeferson não deveria ter sido entregue à família.
“Há um estranhamento, porque o material cirúrgico, aquilo que foi retirado durante a cirurgia, deveria ter sido acondicionado corretamente e encaminhado para o Laboratório de Anatomia Patológica, não ser entregue aos familiares sem nenhuma orientação”.
“Eu recomendo sempre às famílias que não levem para casa material cirúrgico, que deva fazer exame, para evitar justamente a perda, o extravio e até a destruição deste material, porque o paciente ficar sem um diagnóstico e, por consequência, ficar sem tratamento”.
Conforme Otávio, o procedimento correto é que o próprio hospital encaminhe o material para laboratórios que façam os exames.
“Em qualquer hospital que se preze, o material é encaminhado ao laboratório do próprio hospital, ou a um laboratório conveniado. Acondicionado em vasilhames ou imerso em líquidos próprios, para conservação do material, de modo a evitar que se perca a qualidade do exame, quando for realizado.”
“Esse órgão poderia apodrecer, ser destruído. E, caso se tratasse por exemplo de uma doença grave, o que não é o caso, felizmente, perder-se-ia o material que foi retirado do paciente e que, como todo material, tem que ser examinado. Nos casos de doenças malignas como um câncer, o material tem que estar em condições adequadas para que o patologista possa fazer um diagnóstico. Sem isso, sem o acondicionamento adequado, o material se destrói. Prejudica o diagnóstico, dificulta e às vezes impossibilita o diagnóstico”.
Família faz boletim na polícia
Jovem é baleado, perde rim e hospital entrega órgão à família em saco plástico na Bahia — Foto: Arquivo pessoal
O pai de Jeferson, Luciano Bispo, esteve no hospital horas após a nora ter recebido o rim do rapaz. Ele disse que questionou a unidade de saúde sobre o procedimento.
“É uma situação muito complicada. A gente fica estarrecido com uma situação dessa. Eu queria uma resposta do hospital, porque nunca vi uma coisa dessas”, disse.
Sem uma resposta do hospital, ele foi orientado pela própria família a prestar queixa na Delegacia de Portão. Ele relatou que, ao buscar esse atendimento, foi maltratado e constrangido pelos policiais, e que por isso a ocorrência não foi registrada. Nesta quarta-feira, a família diz que a ocorrência já foi registrada.
Em nota, a Polícia Civil disse que disponibiliza tanto a Ouvidoria quanto a Corregedoria, para que seja formalizada a denúncia de mau atendimento. Informou ainda que não “coaduna com as atitudes relatadas”.
Já com relação aos tiro que Jeferson recebeu, a Polícia Militar informou que um adolescente suspeito de envolvimento no crime foi apreendido e levado para Delegacia de Lauro de Freitas.
fonte: G1