Alemanha anuncia mais de R$ 1 bilhão para ações ambientais no Brasil
O presidente Lula recebeu, nesta segunda-feira (30), a visita do primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz. Na pauta, a guerra da Ucrânia, o acordo do Mercosul com a União Europeia e um pacote de proteção ao meio ambiente.
O anúncio foi feito em Brasília, após uma reunião entre a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e a ministra da Cooperação da Alemanha, Svenja Schulze. O encontro durou quase uma hora. A ministra alemã divulgou um pacote de medidas de mais de 200 milhões de euros, o equivalente a mais de R$ 1 bilhão. Desse total, R$ 192 milhões serão destinados ao Fundo Amazônia, que tinha sido suspenso no primeiro ano do governo passado.
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A Alemanha e a Noruega, principais doadores, foram contra as propostas da equipe do então presidente Jair Bolsonaro. O antigo governo queria aumentar o número de integrantes do governo no comitê que gere o fundo e usar parte dos recursos para indenizar quem ocupava terra em áreas de conservação, o que ambientalistas viam como um incentivo ao desmatamento.
O pacote ainda prevê:
– R$ 440 milhões para empréstimos com juros reduzidos no Banco do Brasil, para financiar ações de reflorestamento de agricultores;
– R$ 160 milhões em empréstimos do BNDES para projetos de eficiência energética de pequenas e médias empresas;
– R$ 72 milhões em crédito para projetos de reflorestamento de áreas degradadas por pequenos agricultores;
– R$ 170 milhões para os estados da região amazônica desenvolverem projetos de uso sustentável da floresta;
– R$ 49,5 milhões para dois projetos de uma estatal alemã para ajudar na promoção do desenvolvimento sustentável;
– e mais R$ 29,5 milhões para consultoria para aumentar o uso de energias renováveis por setores da indústria e transportes.
A ministra do Meio Ambiente afirmou que esse dinheiro vai ajudar a criar alternativas econômicas para os produtores que cultivam sem destruir o meio ambiente e que poderão até vender para o exterior
“O Brasil não pode ser penalizado por aqueles que fazem errado. Os que fazem certo, os que desejam transitar para o certo, terão apoio. E que bom que a gente chega no momento em que há o desejo de cooperar, há o desejo de investir e o desejo de abrir os mercados para os nossos produtos”, disse Marina.
A ministra alemã afirmou que o país europeu quer ajudar o Brasil na área ambiental e também na área social. Ela disse que “se o Brasil tem problemas, todos querem ajudar”.
Durante a tarde, o primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz, esteve no Palácio do Planalto. Ele e o presidente Lula ficaram reunidos por uma hora e meia.
O presidente brasileiro e o primeiro-ministro alemão conversaram sobre parcerias entre os dois países em diversas áreas, como no combate ao desmatamento, e sobre o esforço de negociação de um acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, e também falaram também sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia.
Depois, falaram com a imprensa. No início do pronunciamento, o chanceler alemão condenou as invasões ao Planalto, STF e Congresso no dia 8 de janeiro e prestou solidariedade ao governo brasileiro.
“Gostaria de expressar e reafirmar ao presidente Lula e a todos os brasileiros e brasileiras que podem contar com a total solidariedade da República Federal da Alemanha”, afirmou.
Olaf disse que ele e Lula compartilham na preocupação com o meio ambiente. Afirmou que é uma boa notícia ter um presidente empenhado em combater a mudança climática e proteger a Amazônia.
Durante a coletiva, Lula tratou a invasão da Ucrânia pela Rússia como um erro, mas dividiu a responsabilidade pela guerra com o país invadido, ao dizer que quando um não quer dois não brigam.
“Hoje eu tenho mais clareza da razão da guerra. Eu acho que a Rússia cometeu o erro clássico de invadir o território de um outro país. Portanto, a Rússia está errada, mas eu continuo achando que quando um não quer, dois não brigam. É preciso que queiram paz. E até agora eu, sinceramente, tenho visto muito pouco sobre como encontrar paz para a guerra. Eu tenho ouvido muito pouco e por isso que eu tenho proposto a criação de um outro organismo qualquer para ver se consegue encontrar a paz entre a Rússia e a Ucrânia. Eu sei que não é fácil, porque se fosse fácil eles já tinham parado. Mas, ao mesmo tempo, eu sei que eles começam uma coisa e depois não sabe como termina”, disse Lula.
O chanceler condenou a guerra da Rússia contra a Ucrânia, e foi categórico: a retirada imediata das tropas russas do território ucraniano é uma condição para as negociações de paz.
“Temos uma posição clara que condenamos a guerra da Rússia contra a Ucrânia, porque é uma violação do Direito Internacional, que não podemos, pela força, ficar com uma parte do território do nosso vizinho”, afirmou Olaf.
O presidente propôs a criação de um grupo semelhante ao G20 para discutir a guerra da Ucrânia. Falou ainda sobre a importância de um acordo do Mercosul com a União Europeia. Lula encerrou a entrevista prometendo acabar com o garimpo ilegal em terras indígenas.
“Nós resolvemos tomar uma decisão: parar com a brincadeira, não terá mais garimpo. Que vai demorar um dia ou dois, eu não sei, Pode demorar um pouco, mas que nós vamos retirar nós vamos. Não vai ter mais sobrevoo, nós vamos proibir as barcaças de transitar com combustível e vamos tirar de lá porque os Yanomamis conquistaram aquela terra, era deles antes da gente existir como brancos, antes dos portugueses entrarem aqui, eles conseguiram a demarcação. E nós precisamos dar a eles qualidade e condições de vida, porque do jeito que eles estão vivendo, é uma coisa mais do que desumana”, disse Lula.
fonte: Jornal Nacional