Jovem negro que sonha ser policial socorre prima baleada e é acusado de participar de tiroteio

Um jovem de 28 anos foi preso no último sábado (31/07) após socorrer a prima de 14 anos que foi baleada na perna durante uma operação policial. Tiago Marques de Oliveira, que estava no bar da família quando foi surpreendido pelo tiroteio, acabou ferido por estilhaços no ombro. Na delegacia, ele foi acusado de participar do confronto e atirar na polícia. A operação aconteceu no Morro do Salgueiro, no bairro da Tijuca, na zona norte do Rio de Janeiro.


De acordo com familiares, o rapaz mora em Madureira, a 14 km da Tijuca, mas estava na comunidade na companhia do pai para buscar uma cesta básica, e ficou no bar da família quando acabou surpreendido pelo tiroteio.
Segundo Leonardo de Oliveira Leite, primo de Tiago ouvido pela reportagem do UOL, o estoquista foi levado para o hospital no banco de trás da viatura da PM, sem algemas, mas acabou algemado após receber atendimento, para prestar esclarecimentos.
“Chegando lá (na delegacia) que os PMs falaram que ele estava sendo preso por trocar tiros com eles”, disse o primo, que contou ainda ao UOL que o sonho de Tiago era ser policial civil.
Ainda de acordo com a publicação, durante a operação policial, os PMs atiravam de cima de um muro, e Tiago começou a gritar e colocar as pessoas para dentro do bar. “Mesmo sangrando, ele chegou a tirar o casaco e botar na perna da minha sobrinha que estava ferida. Os policiais só viram o Tiago no chão”, disse Leonardo. A adolescente ferida por um tiro na perna passou por cirurgia no Hospital Municipal Salgado Filho e segue estável.
Na segunda-feira (02/08), o Tribunal de Justiça do Rio decidiu, em audiência de custódia, manter Tiago preso. De acordo com o advogado de defesa dele, Carlos Alberto Barbosa, houve irregularidades em sua prisão, uma vez que não foram pedidos exames residuográficos para detectar se havia pólvora em suas mãos, o que poderia mostrar que ele não atirou contra a polícia.
“Estou entrando com habeas corpus. Trata-se de uma vítima que está sendo transformada em criminosa. Depois, vou pedir também uma reconstituição do crime. O Tiago estava em um bar com 30 testemunhas. No bar não tinha bandidos. Na delegacia, não me apresentaram nenhuma arma apreendida”, disse o advogado ao UOL.
A Polícia Civil não explicou por que não solicitou exame residuográfico para Tiago. A Polícia Militar disse que, no último sábado, PMs da UPP Salgueiro foram atacados a tiros por criminosos durante um patrulhamento, que houve revide e que, após o fim do confronto, três homens armados foram encontrados feridos caídos no chão.
Segundo o UOL, o caso está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios da Polícia Civil e, no âmbito da Corporação, em inquérito policial militar. As investigações devem ser acompanhadas pelo Ministério Público do Rio.