Chefes da diplomacia da Rússia e da Ucrânia têm primeiro encontro desde o início do conflito
Os chefes da diplomacia da Rússia e da Ucrânia tiveram o primeiro encontro desde o início do conflito.
A esperança do anfitrião era que a reunião fosse um ponto de virada. O ministro do Exterior da Turquia recebeu de braços abertos Dmytro Kuleba. O chefe da diplomacia da Ucrânia chegou com a promessa de um “diálogo de diplomatas”, desde que não houvesse propaganda russa na mesa.
- Grupo de 68 repatriados que fugiram da guerra na Ucrânia chega ao Brasil
- Ucrânia diz que ataques russos impedem saída de civis por corredor humanitário em Mariupol
Mevlut Cavusoglu elogiou também a ida do chefe da diplomacia da Rússia. O ministro turco chamou de “um passo importante”. Mas Sergey Lavrov entrou para reunião com a declarada impressão de que o único objetivo do governo ucraniano é prejudicar a Rússia.
As três rodadas de negociações anteriores tinham sido em Belarus, em cidades perto da fronteira ucraniana. Mas a Ucrânia acusou o governo bielorrusso até de disparar mísseis contra o território ucraniano, e preferiu que o governo turco atuasse como facilitador.
Antes de mais nada, a Ucrânia exigiu a retirada das tropas russas. Mas nesta quinta-feira (10) focou em dois pontos: um corredor humanitário, sobretudo em Mariupol, e uma trégua de pelo menos 24 horas para resolver as necessidades urgentes da população.
O governo russo deixou claro suas exigências: uma emenda na Constituição ucraniana garantindo que a Ucrânia não vai se juntar a nenhuma aliança militar – três anos atrás o Parlamento ucraniano tornou lei o desejo de entrar na Otan. A Rússia quer ainda o reconhecimento da Crimeia como território russo e da independência de duas regiões separatistas no leste da Ucrânia.
Diante de posições tão firmes, a estratégia da Turquia foi discutir as questões humanitárias. O ministro chamou a reunião de “civilizada”.
Kuleba comentou que o encontro foi fácil por um lado, porque a Rússia repetiu a narrativa dela sobre a Ucrânia; e difícil também, porque se esforçou por uma solução diplomática num cessar-fogo, só que sem progresso nenhum.
O ministro ucraniano deixou claro que as exigências russas equivalem a uma rendição e que a “Ucrânia não se rendeu nem se renderá”.
Lavrov acusou o governo ucraniano de preparar um ataque à região de etnia russa no leste ucraniano e também, sem apresentar provas, afirmou que a maternidade atacada em Mariupol tinha sido tomada por radicais ucranianos. Ele disse que já não tinha pacientes nem profissionais de saúde no hospital, apesar de as imagens mostrarem o contrário.
Lavrov explicou que consultaria quem tem a palavra final na Rússia sobre o cessar-fogo. Ele declarou que Vladimir Putin nunca recusou o contato com o presidente da Ucrânia, mas o ministro explicou que só haveria encontro se o foco fosse temas do interesse da Rússia.
O chefe da diplomacia da Turquia disse que as conversas do encontro foram para preparar terreno para o presidente turco intermediar uma conversa entre Putin e Volodymyr Zelensky. Nesta quinta-feira, o presidente da Ucrânia pediu, por telefone, mais apoio ao primeiro-ministro do Reino Unido. Zelensky também teve um telefonema com o presidente da França.
O evidente avanço militar na Ucrânia não deixa a Rússia tão fortalecida nas negociações. A invasão gerou, segundo o próprio Kremlin, uma guerra econômica, e em questão de dias o Ocidente isolou a 11ª maior economia do mundo.
fonte: Jornal Nacional