Área destruída pelo garimpo cresce 46% em um ano na Terra Indígena Yanomami, diz relatório

Relatório de uma organização Yanomami afirma que o garimpo ilegal explodiu nas terras indígenas em 2021, levando violência e doenças para a região.

Imagens mostram a destruição da floresta e dos rios. Garimpeiros formaram acampamentos próximos às aldeias; crateras abertas na mata por causa da atividade ilegal.

Os vídeos, feitos em janeiro deste ano, fazem parte do relatório da Hutukara Associação Yanomami, a mais representativa organização desses povos indígenas. O documento teve assessoria técnica do Instituto Socioambiental e afirma que “este é o pior momento de invasão da Terra Indígena Yanomami, desde a demarcação e homologação há 30 anos”.

E destaca que “a presença do garimpo é causa de violações sistemáticas de direitos humanos, de desmatamento e da destruição de rios, e de uma explosão de casos de malária e outras doenças, além de um aumento assustador da violência contra indígenas”.

De outubro de 2018 até o fim de 2021, segundo o relatório, a área destruída pelo garimpo ilegal quase dobrou de tamanho, ultrapassando 3,2 mil hectares. O desmatamento teve um aumento de 46% em 2021 em relação a 2020.

O relatório também acusa os garimpeiros de cometerem crimes graves dentro da Terra Indígena Yanomami, como agressões, ameaças, assassinatos e estupros. Os indígenas afirmam que, em alguns locais, a situação é tão crítica que garimpeiros chegam a exigir sexo em troca de comida, inclusive com adolescentes.

Indígenas relataram que a oferta de bebidas alcoólicas é uma das principais estratégias dos garimpeiros para aliciar os jovens e abusar de adolescentes do sexo feminino.

De acordo com a denúncia, um garimpeiro que trabalha na região do rio Apiaú certa vez ofereceu drogas e bebidas aos indígenas, e quando todos já estavam bêbados e inertes, estuprou uma das crianças da comunidade.

O vice-presidente da Hutukara, Dário Kopenawa, disse que as políticas ambientais e de proteção aos indígenas, assim como as operações de combate ao garimpo, estão falhando.

“Nós não somos Polícia Federal, nós não somos investigadores para investigar os crimes que estão acontecendo dentro do território Yanomami, mas agora a gente está cobrando o governo federal para cumprir seu papel, cumprir seu dever e não acontecer mais esse grave ‘derramar’ de sangue, morrer mais as crianças, morrer mais Yanomami e destruir mais o nosso território”, afirmou.

Jornal Nacional procurou o Ministério da Justiça, mas não obteve resposta.

JN pediu uma entrevista à Funai, que mandou uma nota dizendo que desconhece o estudo citado e que não comenta dados extraoficiais; que a mineração ilegal na Terra Indígena Yanomami é um problema crônico, sendo que a atual gestão da Funai tem trabalhado firmemente para resolvê-lo. E citou quatro operações do governo no ano passado. A mais recente, segundo a nota, combateu o garimpo ilegal e resultou na inutilização de 22 aeronaves, apreensão de outras 89 e fiscalização de 87 pistas de pouso clandestinas, além de 38 prisões relacionadas a crimes ambientais e apreensão de quase 30 mil quilos de minério.

Segundo o relatório da associação Yanomami, os vídeos do garimpo ilegal foram gravados nos dias 26, 27 e 28 de janeiro, um mês depois da operação citada pela FunaiDe acordo com os indígenas, depois das operações, os garimpeiros sempre acabam voltando

Os Yanomami estão entre os indígenas que, na tarde desta segunda-feira (11), fizeram uma manifestação contra o que chamam de “agenda anti-indígena”. Entre os projetos, destacam o que libera a mineração em terras indígenas.

O grupo caminhou com bandeiras do Brasil manchadas de vermelho até o Ministério de Minas e Energia. Lá, usaram lama e tinta vermelha em caixas simbolizando barras de ouro. E escreveram na janela do ministério: “Salve o Tapajós.”

O Ministério Público Federal em Boa Vista declarou que uma verdadeira tragédia humanitária está em curso. O MP apresentou à Justiça um pedido para obrigar o governo federal a adotar ações de proteção e operações policiais contra o garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami.

fonte: Jornal Nacional

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