Recuperação do mercado de trabalho ocorre de forma desigual

Recuperação do mercado de trabalho ocorre de forma desigual

A recuperação do mercado de trabalho brasileiro tem ocorrido de forma desigual.

Mais um mês de saldo positivo de vagas. E, ainda que não tão depressa quanto o esperado, o mercado de trabalho no Brasil vai andando. Mas nem todo mundo tem chance; as oportunidades ainda passam longe do ponto onde está a parte mais vulnerável da população.

“Eu estou esperando um serviço fixo, com as suas garantias e todos seus direitos, para pelo menos ter certeza, no final do mês, que você vai conseguir honrar seus compromissos”, diz o vendedor ambulante Marco José da Silva.

No semáforo cruzam o desemprego, o desalento e o subemprego. “A renda é menor, o trabalho é mais difícil. Você tem que se esforçar mais. A parte que você recebe é muito menor, você não tem garantia. Então é tudo muito difícil, sim. É um risco muito grande sem um resultado concreto. Então é muito difícil”, afirma Marco José.

Mizael Alves Mendes, com só 20 anos, desistiu de estudar para ajudar a família a sobreviver.

“Como só tem eu, meu pai e minha mãe trabalhando, e minha mãe não está recebendo como ela recebia antes, então eu voltei para rua. Eu acho que o mercado de trabalho, do emprego, está igual. Desde a época que eu fui demitido, eu acho que está bem igual. Ruim”, lamenta.

O recorte com base nos dados do IBGE mostra que o mercado avança de forma desigual. Para famílias que vivem com até meio salário mínimo, a taxa de desempregados ainda é de 21%; uma faixa de renda acima, cai para 6%; e nas seguintes é ainda menor.

São os mais pobres que vão sendo deixados para trás. O estudo fala em milhões de brasileiros que continuam à espera de embarcar no caminho da recuperação econômica. Diante de um mercado apertado, competitivo, e sem qualificação, eles têm poucas chances, dizem os economistas.

“Esse grupo que está ali na primeira faixa de renda é um grupo de escolaridade muito baixa. Então, eles têm que competir no mercado de trabalho com pessoas, por exemplo, com ensino médio completo ou ensino superior completo, o que é muito difícil. Então no mercado de trabalho muito competitivo, esse grupo tem muita dificuldade de se inserir. E eles vão justamente para o fim da fila nessa escadinha. Quem fica por baixo são as últimas pessoas a entrarem no mercado de trabalho”, diz Ana Tereza Pires dos Santos, pesquisadora do iDados.

“O Brasil é um país em que a desigualdade de oportunidades é uma das maiores do mundo. Dependendo de onde você nasce, da cor da sua pele, de quem são os seus pais ou escolaridade deles, isso determina boa parte de quem você vai ser no futuro. Não tem nada a ver com o talento, nada a ver com o esforço. A gente deveria pensar em políticas públicas que reduzissem ao máximo essa desigualdade de oportunidades no Brasil”, afirma Sérgio Firpo, economista e professor do Insper.

fonte: Jornal Nacional