Ucrânia e Rússia se reúnem pela primeira vez para negociar a paz; nova reunião é marcada

Delegações da Ucrânia e da Rússia se reuniram nesta segunda-feira (28) pela primeira vez para negociar a paz. No quinto dia da guerra, ataques russos atingiram vários alvos civis.


Na cidade ucraniana de Chernihiv, os russos bombardearam um prédio residencial, um mercado e um jardim de infância. Em Kharkiv, dezenas de pessoas teriam morrido em ataques com foguetes.

A Rússia atingiu vários prédios na segunda maior cidade da Ucrânia, incluindo uma escola. Um especialista disse a uma TV britânica que, pelas imagens, o ataque parece ter sido com bombas de fragmentação – proibidas por uma convenção internacional, mas que nem Moscou nem Kiev assinaram.

Enquanto isso, o cerco à capital ucraniana aumenta; tem reforço chegando. Imagens de satélite mostram um comboio russo que estaria espalhado por 27 quilômetros de uma estrada no norte da capital.

A cidade segue numa rotina de medo. Civis se preparam para o combate. Um homem diz que, quem puder, tem que resistir. “É a nossa casa, temos que defendê-la”.

O presidente Volodymyr Zelensky quer força total. Nesta segunda, ele convocou os presidiários do país com experiência em combate.

Zelensky disse que o país está firme, mas falou que só nos quatro primeiros dias de guerra, sem contar essa segunda-feira, 16 crianças morreram em bombardeios russos e 45 ficaram feridas.

O presidente ucraniano disse ainda que 4,5 mil invasores russos foram mortos e mandou um recado para as tropas da Rússia:

“Deixem seus equipamentos e saiam. Não confiem nos comandantes de vocês, apenas salvem suas vidas. Vão embora”.

O Ministério da Defesa ucraniano falou que destruiu nesta segunda um sistema de mísseis da Rússia. E as Forças Armadas disseram que os 13 guardas de fronteira que se recusaram a se render numa pequena ilha do Mar Negro estão vivos. Os marinheiros impediram dois ataques. Chegou-se a falar na morte deles, que receberiam honras póstumas de heróis de guerra.

Um porta-voz do Estado-Maior Geral das Forças Armadas ucranianas disse que “o inimigo está desmoralizado”, que “foram observados casos frequentes de deserção e desobediência. O inimigo entendeu que propaganda e realidade são diferentes”, ele disse.

Em Lviv, uma cervejaria parou de fabricar a bebida para produzir coquetéis molotov. Um homem diz que “a melhor maneira de parar a guerra não é com armas e mais derramamento de sangue, mas com palavras. Só que se as palavras não funcionarem…”.

Negociações

Nesta segunda, pela primeira vez desde o início da guerra, diplomatas dos dois países se encontraram para tentar resolver isso tudo na conversa.

Detalhe importante: o encontro não foi em território neutro, como geralmente se busca numa situação como essa, mas em Belarus, vizinha de porta da Rússia e da Ucrânia, mas aliada de Vladimir Putin.

Pouco antes da guerra, a Rússia fez exercícios militares em Belarus, e hoje, usa a vizinha para invadir a Ucrânia pelo norte. O mediador do encontro tranquilizou os ucranianos.

“Podem se sentir absolutamente seguros”, disse Vladimir Makei, ministro das Relações Exteriores do governo bielorusso.

Os ucranianos colocaram na mesa o objetivo deles para o encontro: um cessar-fogo imediato, mas não só. Também a retirada de todas as tropas russas, incluindo da Crimeia, península anexada pela Rússia oito anos atrás, e também da região de Donbass, dominada por separatistas russos e reconhecida como independente por Vladimir Putin.

Já os diplomatas russos não divulgaram os objetivos de Putin nessa conversa. O encontro terminou com o anúncio de que haveria uma segunda rodada de negociação Ou seja, de combinado mesmo, só que eles vão continuar se falando. E foi só as conversas terminarem para as sirenes voltarem a soar em Kiev.

O presidente russo segue criticando o Ocidente. Ao comentar as sanções contra o governo, Vladimir Putin disse que os países ocidentais formam o “império das mentiras”.

Putin conversou com o francês Emmanuel Macron nesta segunda. Ele teria prometido não atacar civis e infraestruturas não-militares, criando um corredor humanitário. Mas o Ministério de Relações Exteriores da Rússia fez uma ameaça: países europeus que enviarem armamentos para a Ucrânia vão sofrer graves consequências.

O presidente ucraniano disse que assinou um pedido para fazer parte da União Europeia, e que tem certeza de que é a possibilidade é realista. Oito países do bloco, todos do Leste Europeu, assinaram embaixo.

Mais de 500 mil refugiados

Mais de 500 mil pessoas já tiveram que sair da Ucrânia para países vizinhos, a maioria para a Polônia. Meio milhão. É como se todo mundo que mora em Florianópolis, Niterói ou Macapá tivesse que fugir de casa e deixasse a cidade vazia. Dá para imaginar o que isso representa na vida de cada pessoa?

Imagens desta segunda na estação de trem da cidade ucraniana de Liviv mostram muita gente no sufoco, tentando ir embora. Mães guerreiras, carregando seus bebês por horas e horas num aperto, e esse é só o início da jornada.

fonte: Jornal Nacional