Governo da Ucrânia diz que Rússia quebrou acordo de cessar-fogo
Fracassou o cessar-fogo combinado para a retirada de mais de 200 mil civis de duas cidades do sudeste da Ucrânia, neste sábado (5). O governo ucraniano acusou as tropas russas de não pararem os ataques na região do corredor humanitário. A Rússia negou. As informações com os enviados especiais à Polônia Rodrigo Carvalho, Ross Salinas e Ernani Lemos.
A Rússia tinha anunciado um cessar-fogo temporário, de cinco horas, para idosos, mulheres e crianças poderem ir embora de duas cidades do sudeste da Ucrânia: Volnovakha e Mariupol.
As pessoas sairiam por um corredor humanitário, um trajeto combinado entre russos e ucranianos. Em Volnovakha, alguns grupos até conseguiriam sair: 400 pessoas ao todo.
Um deputado descreve o cenário da cidade como terra arrasada, com corpos no chão e abrigos antiaéreos sem comida. Daí a importância de levar embora o máximo de pessoas de lá.
Mas o governo da Ucrânia disse que as tropas russas quebraram o acordo. A vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Vereshchuk, falou que às 11h45, no horário local, menos de três horas depois de o acordo entrar em vigor, a Rússia começou a bombardear a cidade usando artilharia pesada.
A prefeitura da outra cidade do acordo, Mariupol, chegou a organizar 50 ônibus para tirar os moradores. Mas logo suspendeu o plano.
Em um comunicado, autoridades locais pediram aos moradores que voltassem aos abrigos subterrâneos da cidade. Mariupol está sem água, sem luz e sem aquecimento. E é inverno na Europa.
O Ministério da Defesa russo disse que abriu, sim, corredores humanitários na manhã deste sábado (5), mas que nacionalistas ucranianos teriam impedido a saída de civis.
A retirada de moradores das duas cidades vai ficar para outro dia. O plano era retirar 200 mil pessoas neste sábado.
Enquanto isso, em outras regiões do país, mais ataques. Na cidade de Bila Tskerva, a 85 quilômetros da capital Kiev, o ataque aéreo tinha acabado de acontecer quando os bombeiros chegaram. Um vídeo divulgado pela Polícia Nacional Ucraniana mostra alguns prédios destruídos.
Em outro lugar nos arredores de Kiev, a vila de Byshiv, moradores se reuniram para juntar os cacos. Um ataque russo matou uma pessoa, feriu quatro e destruiu um centro cultural.
Sergey, morador da área, disse: “É como na Síria. Sempre acompanhei as notícias de lá, assistia a tudo. Nunca pensei que os russos viriam até aqui. É uma tristeza. Mas os ucranianos vão estar sempre fortes. Glória à Ucrânia”.
Em Kherson, cidade portuária tomada pelos russos na última quinta-feira (3), moradores foram para rua protestar contra a invasão.
Eram duas mil pessoas cantando o hino nacional e gritando frases como “Os russos vão para casa” e “Kherson é Ucrânia”. Este foi o primeiro grande centro urbano a cair nas mãos das tropas da Rússia.
Também neste sábado, o Ministério da Defesa russo divulgou um vídeo de helicópteros disparando contra alvos ucranianos, num local não identificado.
Na cidade de Irpin, uma equipe de TV turca capturou uma explosão forte. A coluna de fumaça era imensa, e o motorista do carro da frente ficou desnorteado.
Em Karkiv, segunda maior cidade do país, as forças armadas da Ucrânia disseram ter apreendido tanques e outros veículos blindados da Rússia.
Nos arredores da cidade de Chernihiv, no norte do país, uma das casas pegando fogo depois de um ataque russo era de uma mulher: “Meus quatro cachorros morreram queimados. Tudo estava queimando ao nosso redor. Ficamos sem nada. O que os russos estão fazendo?”
Outra casa era de uma senhora que, ali mesmo, vendo tudo arder, botou para fora a raiva que sente de Vladimir Putin: “O que você fez com a minha casa e com o meu país, seu fascista? Como o mundo inteiro não consegue parar esse homem?”.
A guerra na Ucrânia já dura dez dias e, sem qualquer sinal de que vai acabar logo, continua expulsando milhares de pessoas para países do Leste Europeu.
A ONU afirmou neste sábado que o número de refugiados pode chegar a 1,5 milhão neste domingo (6). Já é fato: o mundo não via uma crise de refugiados tão rápida assim desde a Segunda Guerra.
O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, disse neste sábado que tem certeza de que em breve vai poder dizer ao povo ucraniano: “Volte! Volte da Polônia, Romênia, Eslováquia e de outros países amigos. Volte, porque não há mais ameaça. Estamos pensando no futuro de todos os ucranianos quando a guerra acabar, em como reviver nossas cidades, como restaurar a economia”.
Mas a realidade está longe disso. O número atual de refugiados – 1,3 milhão – representa 3% da população do país. E ainda tem muita gente querendo sair da Ucrânia. A estação de trem da cidade de Lviv, caminho para quem quer ir para a Polônia, está abarrotada.
Uma terceira rodada de negociações foi marcada para a próxima segunda-feira (7).
fonte: Jornal Nacional