BAHIA Bairro de Itinga terá circulação restrita a partir desta quarta-feira (03)

A partir desta quarta-feira, 03, a circulação de pessoas ficará restrita em Itinga, bairro de Lauro de Freitas que registra metade das mortes por covid-19 no município da região metropolitana de Salvador. A medida, anunciada pela prefeitura da cidade, vai vigorar até o dia 10 de junho.

A medida tomou como base o número de casos de covid-19 registrados no bairro. Já são 134 confirmados, o que corresponde a mais de 24% dos casos confirmados em toda a cidade. No município já são 549 pessoas infectadas e 86 ainda aguardam resultado.

De acordo com o decreto publicado pela gestão municipal, os moradores da Itinga só deverão circular pelas ruas do bairro em caso de extrema necessidade. Apenas estabelecimentos comerciais essenciais terão autorização para funcionar, e a aglomeração de pessoas em espaços públicos ou privados será proibida. Locais para estacionamento também serão limitados. A fiscalização será realizada em barreiras montadas nas principais vias do bairro.

As medidas seguem desde o Largo do Caranguejo e alcançam um raio de dois quilômetros em direção à Avenida Fortaleza, Alto de Itinga, São Cristóvão e Parque São Paulo.

“O decreto, que compreende os períodos diurno e noturno, é uma resposta ao aumento no número de casos de contaminação pelo coronavírus no município, especialmente em bairros mais populosos”, disse a prefeitura, em nota. 

Ainda segundo a administração, até esta segunda-feira, 01, só o bairro de Itinga tinha metade das mortes da cidade, que já chegam a 12. Depois de Itinga, as localidades de Caji (81) e Portão (54) ocupam o segundo e terceiro lugares, respectivamente, em número de contaminados. 

Quem for flagrado descumprindo o decreto poderá ser autuado em flagrante pela prática dos crimes contra a saúde pública e desobediência. Também ficam sujeitos à aplicação de multa, interdição e/ou suspensão da atividade comercial. As pessoas abordadas pela fiscalização devem apresentar comprovação de residência e da necessidade de circulação. 

Estão permitidos deslocamentos para unidades de saúde, estabelecimentos comerciais autorizados a funcionar, entrega de bens essenciais para pessoas dos grupos de risco, prestação de serviços emergenciais por órgãos públicos, e de assistência a idosos, crianças, e pessoas com necessidades especiais.

O que ainda pode funcionar

Durante a restrição, estão autorizados a funcionar apenas estabelecimentos comerciais essenciais, como supermercados, panificadoras, açougues, farmácias, postos de combustível, agências bancárias e lotéricas, unidades ou serviços de saúde humana ou animal, de urgência e emergência, além de serviços públicos essenciais, funerárias, segurança privada, imprensa, telecomunicações, logística e transporte de alimentos e medicamentos. Segue suspensa a atividade de vendedores ambulantes. 

A Prefeitura também vai realizar ações de apoio e proteção aos moradores do bairro, como a medição de temperatura e encaminhamento de casos suspeitos de covid-19 para avaliação clínica, ações de combate ao mosquito aedes aegypti, distribuição dos kits alimentos substituindo a merenda escolar e máscara para pessoas com vulnerabilidade social cadastrados pela Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania (Semdesc), além da intensificação das ações de desinfecção de locais públicos, realizada pela gestão desde o início da pandemia.

Em anonimato, um morador do bairro que segue em isolamento conta que nem mesmo tem colocado a cara na janela para ver o movimento nas ruas. “Tenho visto o que comentam nos grupos de WhatsApp e, pelo que falam, ainda tem muita gente na rua. O bairro é populoso e o comércio flui forte”, relata ele, que tem saído apenas para idas ao mercado.

Efeitos na rotina

Doutorando em Urbanismo pela UFBA, João Soares Pena defende que algumas medidas de restrição são capazes de mudar a rotina dos moradores de um bairro e tornam-se necessárias para uma menor exposição das pessoas ao vírus. Para o pesquisador, o fechamento do comércio não essencial é positivo para evitar o fluxo nas ruas. 

“As pessoas não precisam necessariamente de roupas e sapatos novos se não estão saindo de casa. O cabelo a gente consegue ficar sem cortar, sem dar uma progressiva. É difícil, mas é possível. Precisamos comer, beber e nos medicar porque esses sim são serviços necessários para a gente continuar vivendo”, defende.

O urbanista explica que a vida num bairro envolve questões socioeconômicas, culturais e urbanísticas. Nos bairros populares, as ruas são como extensão da própria casa, é onde as crianças têm espaço para brincar e onde adultos socializam, diferente, por exemplo, de uma vida em condomínios, em que há espaços de convivência próprios como playgrounds. 

Tanto as ruas quanto os playgrounds estão com acesso não recomendado ou mesmo proibido, mas ainda há quem insista em frequentar. A adoção do toque de recolher, que impede a circulação em determinados horários, é umas das alternativas que vêm sendo adotadas para evitar comportamentos como esses.

“Há uma pracinha em frente à minha casa em que as pessoas ficam jogando dominó, gente fazendo atividades físicas. Mesmo à noite, umas 22h, tem cinco a seis pessoas jogando dominó. Acho importante ter restrição de horário de circulação, é fundamental que a gente diminua o máximo possível de exposição na rua”, comenta.