Cessar-fogo é o primeiro passo em direção à paz numa guerra

A falta de sinais de uma solução pacífica para a guerra na Ucrânia levanta uma questão: o que seria necessário para isso acontecer?

Esta semana, a Rússia anunciou que iria diminuir a ofensiva militar no norte da Ucrânia e na região da capital, Kiev. Mas também avisou que isso não significa parar os ataques. E houve novos bombardeios desde então.

Apesar de mensagens contraditórias nas negociações, os dois países dão alguns sinais de que estão cedendo. A Ucrânia já admite, como quer a Rússia, ser um país neutro, sem aderir à Otan, a aliança militar liderada pelos Estados Unidos.

“Quando a gente olha para o processo de negociação que tem envolvido Rússia e Ucrânia de fato há avanços, no sentido de que cada vez mais a lista de demandas dos lados tem sido reduzida, o que permite acreditar em algum momento a negociação vai ser viável. Rússia começou com uma lista de quase dez itens, agora está girando em torno de três ou quatro. Já ficou claro que os russos estão dispostos a abrir mão de outras coisas, que para eles nesse momento o que importa é a dita neutralidade da Ucrânia”, diz Fernanda Magnotta, pesquisadora do Cebri.

Nas relações internacionais, o primeiro passo em direção à paz é um cessar-fogo. Os países envolvidos na guerra param os ataques – provisoriamente – enquanto tentam resolver as suas demandas. Quando os dois lados se entendem sobre o fim da guerra e sobre o que cabe a cada um, é assinado um acordo de paz, mas a história tem exceções.

A guerra entre as Coreias parou em 1953 por um cessar-fogo. Nunca houve um acordo de paz. Tecnicamente, aquela guerra não foi encerrada.

Na década de 1990, israelenses e palestinos assinaram os acordos de Oslo, que deveriam estabelecer a paz entre os dois povos, mas os conflitos voltaram poucos anos depois.

Em 2014 e 2015, Rússia e Ucrânia já tinham assinado um cessar-fogo – os tratados de Minsk – para tentar acabar com o conflito entre as forças ucranianas e os separatistas apoiados pela Rússia.

Hoje, a Rússia tem o controle de parte da região de Donbass, no leste da Ucrânia, e vem destruindo a cidade de Mariupol, que serve de acesso ao Mar de Azov. Em 2014, os russos já tinham anexado a Crimeia, no sul. Também há tropas de Vladimir Putin espalhadas por outras regiões da Ucrânia. E ainda não se sabe até onde vão as ambições territoriais da Rússia.

“No campo territorial, é importante lembrar que a Rússia conquistou territórios hoje na Ucrânia muito além do que simplesmente a região das repúblicas separatistas ou da Crimeia. A Rússia estaria disposta a sair totalmente desses territórios? A questão é saber se essa situação de uma relação pacífica no longo prazo entre os dois governos é viável. E infelizmente, pelo fato de, principalmente por parte da Rússia, me parecer que vai ser muito difícil a Rússia aceitar uma realidade em que ela ganhe muito pouco dessa guerra, esse é o principal motivo pelo qual eu considero que a paz duradoura ainda está distante”, analisa Felipe Loureiro, professor de Relações Internacionais da USP.

fonte: Jornal Nacional