Cientistas baianos usam cacau em estudo para criar medicamento contra a covid-19

Um grupo de pesquisadores baianos estuda como o cacau pode ser usado no combate à pandemia do novo coronavírus. O grupo é liderado pelo pesquisador Carlos Pirovani, da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), e tem o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb).

O estudo avalia o potencial de enzimas presentes no cacau para atuar contra as proteases presentes no vírus. Carlos explica: “Essas proteases do vírus atuam como tesouras, cortando as grandes moléculas do vírus, o que o torna capaz de infectar o nosso organismo. No laboratório de Proteômica da Uesc, testamos a hipótese de que alguns inibidores que encontramos em proteases do cacau possam bloquear o efeito das ‘tesouras’ do Coronavírus”.

A equipe coordenada por Carlos já estuda o potencial fármaco do cacau desde 2005, para outras doenças. “Já testávamos essas moléculas contra diferentes doenças e decidimos aplicar nosso trabalho para ajudar, por meio da ciência, a combater a pandemia da covid-19. Como as proteases (tesouras) do coronavírus são alvos promissores para a criação de drogas inibidoras, decidimos realizar os testes e verificar se os inibidores que encontramos no cacau encontramos são eficazes e podem gerar um medicamento contra a doença”, disse Carlos, que informou que o grupo tem recebido mensagens de apoio de pesquisadores de outros países.

O grupo pretende elaborar um medicamento, a partir do uso do cacau, para os pacientes já infectados com a doença. Segundo o coordenador da pesquisa, o grupo quer ir na contramão da maioria das pesquisas, que tem focado em drogas que já existem, como a cloroquina e ivermectina. 

“Enquanto a maioria busca reposicionar drogas já existentes para que sejam utilizadas contra a covid-19, nossa abordagem envolve posicionar novas drogas. Nesse caso, ainda temos o aditivo de usar moléculas naturais que já produzimos em nosso laboratório. Assim, esperamos desenvolver moléculas que sejam efetivas não só contra o coronavírus, mas também outras viroses”, declarou.

Os estudos, até o momento, são classificados como promissores pelo coordenador do grupo de pesquisa. “Em um cenário perfeito, realmente esperamos que essas substâncias sejam eficazes. Por isso, a parte da pesquisa que envolve analisar as interações das substâncias do cacau com as “tesouras” do vírus já está em andamento e elas serão avaliadas quanto à toxidade às células humanas. Aquelas que passarem no teste serão avaliadas contra o próprio Sars-Cov-2 no Centro de Tecnologia em Vacina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFGM), sob a supervisão do professor Flávio Fonseca”, disse.

O projeto conta com ainda com o apoio da farmacêutica Brenda Santana, da bióloga Monaliza Macêdo e da biomédica Andria Freitas, todas estudantes de mestrado ou de doutorado da Uesc, que são responsáveis pelas análises laboratoriais.

Além disso, a Universidade Federal de Viçosa (UFV) e outros pesquisadores da Uesc também contribuem para o projeto. “Projetos desta natureza só são viáveis quando se envolve uma equipe multidisciplinar de forma a contemplar uma ampla gama de conhecimentos específicos e metodologias a serem empregadas, além do incentivo por parte da gestão pública. O apoio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa da Bahia (Fapesb), é fundamental neste processo”, concluiu Carlos.