Corpo do jovem espancado no bairro da Graça é enterrado nesta sexta-feira (16)
Um clima de muita comoção marcou, nesta sexta-feira (16), o enterro do estudante de engenharia mecânica Kaíque Abreu, de 22 anos, morto com um soco durante o carnaval de Salvador. O jovem foi agredido na sexta-feira (9) e teve morte cerebral confirmada na quarta (14).
Bastante emocionados, familiares e amigos prestaram as últimas homenagens à vítima, no cemitério Bosque da Paz, no bairro de Nova Brasília, na capital baiana. Centenas de pessoas usavam uma camisa branca com a foto de Kaique estampada, ao lado da frase: “Pra quem tem fé, a vida nunca tem fim”.
O corpo do jovem começou a ser velado na capela 6 do cemitério a partir das 14h. Depois, por volta das 17h30, ocorreu o enterro, sob muitos aplausos. Os pais e o irmão mais velho de Kaique não falaram com a imprensa.
Amigo da família, o microempresário Igor Aquino, 38 anos, estava bastante abalado. Ele conhecia Kaique, que estava no sétimo semestre de engenharia mecânica e era o caçula de dois filhos, desde que o jovem tinha dois anos de idade.
“A família está desolada. De forma racional e emocional a gente tenta buscar alguma explicação para o ocorrido, e a gente não consegue. Uma violência gratuita, desproporcional, de forma que não permitiu sequer defesa da vítima”, lamentou.
Igor disse que Kaique era bastante caseiro, que não saía muito para festas. O jovem, que morava com os pais em Lauro de Freitas, veio para Salvador na quinta feira para o carnaval com o irmão, que o deixou na casa de amigos — um dia antes de ter sido agredido.
Ele ficou hospedado na casa desses amigos, na Rua Manoel Barreto, mesma rua onde o crime ocorreu. Na madrugada da sexta, quando estava na festa com os amigos, ele se perdeu e se dirigiu sozinho para um ponto de encontro. Foi quando tudo aconteceu.
“Eles estavam sem celular, por questões de segurança. E combinaram que, caso se perdessem, haveria um ponto de encontro específico. Quando Kaique se perdeu, se deslocou sozinho para o ponto, que era também na Manoel Barreto. Quando ele seguia sozinho, o crime aconteceu”, disse o amigo.
Os pais de Kaique ficaram em Lauro de Freitas e, segundo o amigo da família, o jovem só passaria um dia no carnaval, já que no sábado os pais viajariam e ele queria estar em casa.
Ainda segundo Igor, a família soube da agressão contra o jovem após uma pessoa que avistou Kaique caída no chão ter entrado em contato através de redes sociais.
“Varias pessoas passaram pelo local e apenas uma que não sei quem é resolveu parar, mediu o pulso dele, felizmente tentou fazer reanimação no local e fez contato com o Samu. Depois, com o documento dele, buscou na redes sociais alguém que tivesse parentesco com o perfil dele e avisou a uma prima de Kaique”, disse.
Ainda segundo o amigo da família, a decisão pela doação dos órgãos de Kaique foi por uma vontade dele mesmo. Por isso, o corpo do rapaz só foi enterrado dois dias após a confirmação da morte.
“A doação foi uma decisão conjunta do pai, da mãe e do irmão. Enquanto tomavam essa decisão, eles lembraram que no ano passado Kaique disse que queria doar caso morresse. Então confirmaram em função do próprio desejo do Kaique. Todos os órgãos foram doados. Posso dizer que esses órgãos foram para pessoas do próprio estado da Bahia. Não sabemos quem são , mas o importante é que algumas vidas estão sendo salvas”, disse.
A família e os amigos do jovem esperam agora que a justiça seja feita. “Foi uma violência gratuita conta o nosso jovem Kaique. Kaique era muito alegre. Não existia tristeza e nem mal humor. Amigo, parceiro. Meu filho era parceiro de jogos online dele. Por onde caminhava, deixava um ar de alegria, satisfação e conforto em qualquer pessoa. Era um anjo na terra que foi para o céu. Um jovem de 22 anos com inocência ainda. Os corações dos pais estão dilacerados. Algo lamentável. O irmão está inconsolável. Essa dor nunca vai findar”, disse.
“Mesmo que a justiça seja feita, Nada vai mudar para Kaique, mas temos que impedir que isso seja feito com outras pessoas de uma maneira tão banal, tão brutal. Violência não é o caminho”, disse Igor.
Família agradece apoio
A família de Kaíque enviou uma nota à imprensa na noite de quinta-feira (15), na qual agradece o hospital onde o jovem ficou internado, a polícia, a Justiça, a imprensa e a sociedade.
Na nota divulgada pelos familiares da vítima, eles destacaram a importância da população se unir: “Somente juntos poderemos construir uma sociedade melhor”.
Por meio da nota, os familiares falaram também sobre a decisão de doar os órgãos de Kaíque. “Transformar a dor da perda em uma oportunidade de salvar outras vidas foi uma das razões para que nós, familiares de Kaíque, após o diagnóstico de morte encefálica, autorizássemos a doação dos seus órgãos”, escreveram.
Suspeito
O suspeito do crime, identificado como Edson Rodrigues dos Santos, de 27 anos, contou que bateu no jovem porque queria descontar uma agressão que teria sofrido no circuito da folia. O suspeito foi preso na quarta, no bairro de Capelinha de São Caetano, onde morava.
Além de Edson, Bruno Fernando Ribeiro Batista, de 30 anos, que dirigia o caminhão usado pelo suspeito para fugir, foi preso, e um adolescente de 17 anos que estava com ele durante a ação foi apreendido. Os três foram identificados com a ajuda das imagens do crime.
De acordo com a polícia, Bruno e o adolescente foram conduzidos ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e admitiram ter visto o momento do crime. O adolescente foi encaminhado à Delegacia para Adolescente Infrator (DAI), enquanto que Bruno vai responder por omissão de socorro e favorecimento pessoal.
Mais dois adolescentes, já identificados, que estavam na companhia de Bruno, serão intimados para prestar depoimento. O caminhão, que foi apreendido, passará por perícia no Departamento de Polícia Técnica (DPT).
Agressão
O crime ocorreu por volta das 2h50 da sexta-feira (9), na Rua Manoel Barreto. As imagens da câmera de segurança mostram dois homens se aproximando de Kaíke, no momento em que ele passa pelo local. O rapaz voltava para casa sozinho, após se perder dos amigos.
Os dois homens que aparecem no vídeo param perto de um poste. Em seguida, outros dois homens andam em direção a um caminhão estacionado. Um deles entra no veículo, e o outro vai pra carroceria.
Logo depois, Kaíque segue andando na rua e é violentamente agredido por um dos homens que estava próximo ao poste – Edson. O rapaz fica no chão, enquanto o motorista do caminhão dá a partida e os dois homens sobem na carroceria. O caminhão deixa o local e o rapaz continua caído.
Kaíke foi socorrido e levado para o Hospital Português, mas não resistiu aos ferimentos, após cinco dias internado na unidade de saúde.
Fonte: G1