Depoimento de ex-funcionária da Casa Branca é marco histórico para democracia dos Estados Unidos
O depoimento de uma ex-funcionária da Casa Branca à comissão que investiga a invasão do Congresso americano foi um marco histórico para democracia dos Estados Unidos. Na terça-feira (28), diante dos senadores e dos olhos de milhões de americanos, as declarações dela sob juramento trouxeram à tona fatos estarrecedores e evidências que podem complicar criminalmente o ex-presidente Donald Trump.
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Até terça-feira (28), Cassidy Hutchinson era desconhecida por grande parte dos americanos. Ex-funcionária da Casa Branca, foi ela quem apresentou as evidências mais contundentes de envolvimento de Donald Trump na invasão ao Congresso dos Estados Unidos até agora.
Cassidy trabalhou durante meses a metros de distância do então presidente. Ela era assistente de Mark Meadows, então Chefe de Gabinete, e participou de reuniões do governo antes e depois do dia 6 de janeiro de 2021.
No depoimento, ela contou que quatro dias antes do ataque ao Congresso, o ex-advogado de Donald Trump, Rudy Giuliani, perguntou a ela: “Você está animada com o 6 de janeiro?” Ela respondeu: “O que vai acontecer no dia 6?”. “Nós vamos para o Congresso, vai ser ótimo. O presidente vai estar lá”, disse ele.
Logo depois, Cassidy comentou sobre a conversa com o chefe dela. Sem demonstrar surpresa, Meadows teria avisado: “As coisas podem ficar muito ruins no dia 6 de janeiro”.
A ex-funcionária disse que na manhã do dia 6 de janeiro, Trump foi informado que os manifestantes estavam armados, e, mesmo assim, pediu que o serviço secreto retirasse os detectores de metal.
Cassidy explicou que o então presidente estava preocupado com a imagem do comício, que não estava cheio, e disse: “Eu não me importo que eles estejam armados. Eles não estão aqui para me ferir e eles podem caminhar deste ponto para o Congresso.”
Durante o discurso, Trump convocou os apoiadores: “Nós vamos até o Congresso, eu vou estar com vocês.”
Segundo o professor Paul Brace, da Rice University, no Texas, isso levanta questionamentos: “Se estavam armados e não estavam ali para ferir Trump, quem eles queriam ferir? Por que precisavam de armas na área do Capitólio? É problemático para Trump de um ponto de vista legal, mas também político”, explicou.
De acordo com Cassidy, Trump queria mesmo se juntar ao grupo que caminhava para o Capitólio.
Ela contou que antes do comício, o advogado da Casa Branca já tinha pedido que ela não deixasse que Trump fosse.
“Nós vamos ser acusados de todos os crimes imagináveis se deixarmos isso acontecer”, teria alertado Pat Cipollone.
Depois do comício, Trump entrou no carro e o chefe da segurança disse a ele: “Nós estamos voltando para Casa Branca.”
Segundo Cassidy, o chefe de operações da Casa Branca contou que Trump ficou irritado com a decisão e tentou pegar o volante. O chefe de segurança, Robert Engel, teria segurado o braço do presidente e Trump teria reagido com a mão que estava livre. Fontes da imprensa americana desmentem que ele tenha tentado dirigir o carro.
Cassidy contou que quando os apoiadores de Trump já tinham invadido o Congresso, o advogado da Casa Branca disse para Meadows que eles precisavam falar com o presidente. Cipollone afirmou que pessoas iam morrer se nada fosse feito. Então, os dois foram até a sala de jantar do Salão Oval.
Quando voltaram, segundo a ex-funcionária, Cipollone insistiu: “Precisamos fazer algo, eles estão literalmente dizendo para enforcar o vice-presidente.” E o Chefe de Gabinete respondeu: “Você escutou o que ele falou, ele acha que Mike merece.” Por volta deste mesmo horário, Trump publicou críticas ao vice-presidente numa rede social.
Para o professor da Universidade Columbia, Daniel Richman, em termos técnicos criminais, o problema não foi só incitar um grupo violento, mas incitar esse grupo como parte de um plano para pressionar Pence a cometer fraude contra os Estados Unidos.
Horas depois, Trump gravou um vídeo sem condenar a violência dos apoiadores: “Agora vocês precisam ir para casa. Nós amamos vocês, vocês são muito especiais.”
No dia seguinte, condenou o ataque ao Congresso: “Aqueles envolvidos em atos de violência e destruição, vocês não representam nosso país. E os que infringiram a lei, vocês vão pagar por isso.”
Cassidy contou que Trump achava que não precisava fazer esse discurso, mas foi convencido por causa da possibilidade de o Senado invocar a 25° Emenda da Constituição, que poderia removê-lo da presidência, sob a alegação de falta de condições mentais para governar.
A ex-funcionária da Casa Branca confirmou para comissão que o advogado de Trump, Rudy Giuliani, e o chefe de Gabinete, Mark Meadows, pediram perdão presidencial antecipado, antes de Trump deixar a Casa Branca. Segundo ela, os dois queriam evitar processos futuros pelas ações deles que resultaram nos acontecimentos do dia 6 de janeiro.
Há quase um ano, a comissão do Congresso investiga o dia 6 de janeiro de 2021 e já afirmou que a invasão do Capitólio foi o ápice de uma campanha que durou meses, na qual Donald Trump e a equipe dele questionaram publicamente a integridade das eleições, apesar de não terem nenhuma evidência de que houve fraudes.
fonte: JN