Gastos do Brasil com importações da Rússia mais que dobraram neste ano
O presidente Jair Bolsonaro disse que conversou nesta segunda-feira (27), por telefone, com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e que eles falaram sobre segurança alimentar e energética. Segundo a agência de notícias Reuters, Putin afirmou a Bolsonaro que a Rússia vai cumprir os contratos de fornecimento de fertilizantes ao Brasil, mesmo com a guerra em curso. A Rússia é o principal fornecedor dos fertilizantes usados na agricultura brasileira.
Essa compra de fertilizantes ajuda a explicar como os gastos do Brasil com importações da Rússia mais que dobraram neste ano.
A rota que liga a Rússia ao Brasil é outra depois da guerra. O país de Vladimir Putin ficou mais distante para o nosso café, por exemplo.
Com a disparada do custo do frete e as dificuldades de logística criadas pela pandemia, as vendas do grão para lá encolheram 43% em um ano, e os russos caíram da sexta para a 13ª posição entre os maiores importadores do café brasileiro.
Do lado de cá, no entanto, nunca vimos tantos navios com as cores da Rússia atracarem no mar brasileiro. A maior parte carregada de fertilizantes.
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“O Brasil, diante dos rumores da guerra, já adiantou os volumes de compra logo nos primeiros meses do ano, então teve um volume de compra de fertilizantes maior logo nesses primeiros cinco meses do ano. Os preços já vinham subindo devido a outros fatores como, por exemplo, pandemia e interrupções logísticas, e aí, com a guerra, essa situação piorou, elevando os preços”, explica Maisa Romanello, especialista da Safras & Mercado.
Desde o início da série histórica do governo federal, o Brasil nunca gastou tanto com as importações russas. Foram US$ 3,41 bilhões entre janeiro e maio, mais que o dobro do mesmo período do ano passado, quando gastou US$ 1,66 bilhão.
“Em geral, a gente compra mais da Rússia do que a gente exporta. A balança comercial do Brasil com a Rússia é deficitária, porque o Brasil importa muitas commodities, muito fertilizante e gás natural também da Rússia“, diz Rodrigo Fagundes Cezar, professor de Relações Internacional da FGV.
Esses meses de conflito colocaram a Rússia entre os protagonistas das relações comerciais do Brasil. No ranking de parceiros, o país passou de 12º para 5º lugar, atrás da Alemanha, Argentina, Estados Unidos e China.
É que, para ser um dos maiores produtores mundiais de alimentos, o Brasil depende dos insumos da Rússia, dizem os especialistas em relações internacionais.
“O Brasil tem tentado buscar parceiros comerciais alternativos para importar fertilizante, só que a demanda ainda é muito grande, e um quinto da exportação mundial de fertilizantes químicos e minerais vem da Rússia. Então, por mais que o Brasil feche parcerias com o Canadá, como aconteceu, e com o Irã para buscar alternativas, a Rússia ainda é um parceiro comercial importante para compra de fertilizantes por parte do Brasil, mas também, por exemplo, por parte dos Estados Unidos“, destaca Rodrigo.
O choque de oferta, risco que toda guerra traz, não seria um problema só para o Brasil. A Rússia é o maior exportador de fertilizantes do mundo.
Além disso, Rússia e Ucrânia somam quase um terço da oferta global de trigo, que também ficou mais caro. O preço que a gente também paga pela guerra. Parte da inflação dos alimentos vem da disparada do preço internacional dos fertilizantes e de outros produtos agrícolas.
“A alta no preço dos fertilizantes tem impactado muito nos custos de produção agrícola, né? Então, isso é um dos fatores que explica, sim, o aumento dos preços dos alimentos, além da inflação e de outros aumentos de custos”, afirma Maisa.
fonte: Jornal Nacional