General Gonçalves Dias deixa o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência

General Gonçalves Dias deixa o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência

A quarta-feira de tensão política em Brasília provocou a primeira baixa no ministério do governo Lula. O ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Gonçalves Dias, pediu demissão depois da divulgação de imagens dele no Palácio do Planalto no dia dos ataques golpistas.

Gonçalves Dias era esperado para falar na Comissão de Segurança Pública da Câmara no começo da tarde. Mas, pouco antes do horário marcado, apresentou um atestado médico. Segundo o documento, Dias apresentou “quadro clínico agudo e com necessidade de medicação e observação”.

Horas antes, ainda pela manhã, a CNN divulgou imagens do circuito interno de segurança do Palácio do Planalto durante os ataques do dia 8 de janeiro. O vídeo mostra Gonçalves Dias abrindo uma porta para os golpistas saírem, próximo ao gabinete da Presidência, e militares cumprimentando e dando água para os vândalos.

Segundo a emissora, um homem de camisa branca é um capitão do Exército que integrava o GSI. Nas imagens, os rostos estão borrados. A emissora alega que optou por “não identificar os militares do Gabinete de Segurança Institucional”.

Em nota, o GSI disse que “as imagens divulgadas hoje mostram a atuação dos agentes de segurança que foi, em um primeiro momento, no sentido de evacuar os quarto e terceiro pisos do Palácio do Planalto, concentrando os manifestantes no segundo andar, onde, após aguardar o reforço do pelotão de choque da PM/DF, foi possível realizar a prisão dos mesmos”.

Imagens de Gonçalves Dias no Palácio do Planalto no dia dos ataques golpistas — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução

Imagens de Gonçalves Dias no Palácio do Planalto no dia dos ataques golpistas — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução

No Congresso, os próprios governistas passaram a pedir a demissão de Gonçalves Dias.

“O general Gonçalves Dias, que eu conheço há mais de 20 anos, que tem uma trajetória honrada nas Forças Armadas, é um homem de Estado. É uma situação constrangedora, as imagens que foram publicadas pela imprensa no dia de hoje. Na minha opinião, o ministro Dias perdeu as condições de seguir à frente do GSI”, disse o deputado Orlando Silva, do PCdoB – SP.

O líder da oposição na Câmara, Carlos Jordy, do PL, anunciou que protocolou no Supremo Tribunal Federal um pedido de prisão do general. O presidente da Comissão de Segurança da Câmara, deputado Sanderson, do PL – RS, afirmou que vai requisitar as imagens divulgadas.

“Chama atenção a imagem do general Gonçalves Dias, chefe do GSI, ele tem status de ministro do Estado, porque é ministro do Estado. Ele ali transitando… E todos aqueles que assistiram ao vídeo verificam que as imagens falam por si só. Ele, além de se omitir, ele contribuiu para que os vândalos, aqueles criminosos que ali estavam, que invadiram e que ocuparam o Palácio do Planalto, praticassem os danos e as vandalizações que praticaram”, afirmou.

Em votação, que contou com apoio até dos governistas, a comissão aprovou a convocação de Gonçalves Dias para a semana que vem.

O presidente Lula convocou uma reunião de emergência com os ministros mais próximos – como Rui Costa, da Casa Civil, e Flávio Dino, da Justiça -, líderes do governo no Congresso e o próprio Gonçalves Dias. A avalição geral foi a de que, com as imagens, ele teria que deixar o cargo.

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No dia 12 de janeiro, o próprio presidente Lula disse que queria ver as imagens da invasão e afirmou que estava convencido de que houve conivência.

“Eu quero ver todas as fitas que foram gravadas dentro da Suprema Corte, dentro da Câmara e dentro do Palácio do Planalto. Teve muita gente conivente. É importante dizer que teve muita gente da Polícia Militar conivente, teve muita gente das Forças Armadas aqui dentro conivente. Eu estou convencido de que a porta do Palácio do Planalto foi aberta para que gente entrasse, porque não tem porta quebrada na porta de entrada, ou seja, significa que alguém facilitou a entrada deles aqui”, disse Lula na ocasião.

Em fevereiro, o GSI alegou riscos para a segurança das instalações presidenciais e decretou sigilo das imagens.

General da reserva, Gonçalves Dias, conhecido como “G. Dias”, foi um dos ministros indicados na cota pessoal do presidente Lula. Nos dois primeiros mandatos do petista, o general foi um dos principais responsáveis pela segurança do presidente.

Diante da situação, Gonçalves Dias pediu demissão. Em entrevista a Delis Ortiz, ele reclamou da divulgação das imagens.

“Isso é um absurdo. Colar, na realidade, a minha imagem àquela situação momentânea que estava ali, colar minha imagem aquele major distribuindo águas a manifestantes, fizeram um corte específico na produção, na produção dos vídeos que vocês olharam”, afirmou Gonçalves Dias.

Ele contou como chegou ao Palácio do Planalto durante os ataques.

“Eu cheguei no Palácio quando os manifestantes tinham rompido o bloqueio da Polícia Militar na altura do Ministério da Justiça. E aí aquela turba desceu e praticamente invadiu o Palácio. A maior parte do pessoal que invadiu o Palácio subiu pela rampa. Como o Palácio, nos seus 360º, é composto por vidro, as pessoas não entraram pelas portas, as pessoas quebraram o vidro. Esse vidro tem 12 milímetros, extremamente vulnerável. Eu entrei no Palácio depois que o Palácio foi invadido, e estava retirando as pessoas do terceiro piso e do quarto piso para que houvesse a prisão, no segundo”, disse.

Repórter: “Esse movimento verificando as portas, lembra desse momento?”

Gonçalves Dias: “Eu lembro desse momento. Na sala ao lado do presidente, eu retirei três pessoas que estavam lá dentro e mandei descer para o segundo, e eu fui verificar se as portas estavam fechadas e se não houve nenhuma depredação lá dentro. As portas estavam trancadas”.

O ex-ministro disse que o homem de camisa branca que aparece dando água para os invasores é um major.

“Ele foi afastado duas semanas após o dia 8, e foi afastado exatamente por estar de serviço aquele dia”, diz.

No fim desta quarta-feira (19), a Secretaria de Comunicação da Presidência divulgou uma nota afirmando que “a violência terrorista que se instalou no dia 8 de janeiro contra os Três Poderes da República alcançou um governo recém-empossado, com muitas equipes ainda remanescentes da gestão anterior, inclusive no Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que foram afastados nos dias subsequentes ao episódio”, e que “todos os envolvidos em atos criminosos no dia 8 de janeiro, civis ou militares, estão sendo identificados pela Polícia Federal e apresentados ao Ministério Público e ao Poder Judiciário” e que “a orientação do governo permanece a mesma: não haverá impunidade para os envolvidos nos atos criminosos de 8 de janeiro”.

Os pedidos da oposição para a instalar uma CPI mista para investigar os atos golpistas ganharam força. Inicialmente, o Palácio do Planalto era contra a comissão, por considerar que os fatos já estavam sendo investigados pela Justiça. Mas, diante dos fatos desta quarta (19), a base governista mudou totalmente o discurso. Anunciou que, se a comissão for criada, pretende participar e buscar cargos de comando na comissão.

O número dois do GSI, o secretário-executivo da pasta, Ricardo Nigri, também deixou o cargo. E o governo informou que Ricardo Cappelli, o atual secretário-executivo do ministério da Justiça, será o chefe interino do GSI. Cappelli foi o interventor na segurança pública do Distrito Federal logo após os ataques golpistas.

fonte: Jornal Nacional