Lula discursa na COP27 e propõe aliança mundial contra a fome e as desigualdades
O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, discursou nesta quarta-feira (16) na Conferência do Clima das Nações Unidas, no Egito, e ofereceu o Brasil como sede da COP30, daqui a três anos.
Segurança reforçada, gente chegando, esticando o pescoço, o celular, aliados aparecendo de última hora. O lugar logo ficou lotado.
O presidente eleito foi para área dos governos da região amazônica, onde teve o primeiro compromisso. O governador do Pará, Helder Barbalho, leu uma carta de transição climática para Amazônia e entregou o documento a Lula.
O texto, assinado pelos nove governadores do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal, reforça o pacto federativo entre os estados e o governo federal. E apresenta propostas, como “retomar o diálogo com os demais países amazônicos” e “alavancar o desenvolvimento sustentável”.
Lula antecipou alguns pontos do discurso que faria mais tarde:
“Nós vamos conversar com os governadores, nós não queremos fazer nada sem conversar, sem acordar. Nós vamos assumir um compromisso com os prefeitos. A gente não vai evitar queimada se a gente não tiver o compromisso dos prefeitos. É importante pactuar que os prefeitos vão ter recursos para que a gente possa cobrar deles alguma coisa.”
Depois, veio o evento principal, com gente na porta querendo entrar. E no fim da tarde/início da noite no Egito, Lula chegou para o principal compromisso dele nessa viagem ao balneário de Sharm el-Sheikh. O presidente eleito fez o discurso numa sala oficial da ONU, um discurso muito aguardo por jornalistas e especialistas ambientais de vários países.
“Não por acaso, a frase que mais tenho ouvido dos líderes de diferentes países é a seguinte: ‘O mundo sente saudade do Brasil.’ Quero dizer que o Brasil está de volta. O Brasil está de volta para reatar os laços com o mundo e ajudar novamente a combater a fome no mundo; para cooperar outra vez com os países mais pobres, sobretudo da África, com investimentos e transferência de tecnologia; para estreitar novamente relações com nossos irmãos latino-americanos e caribenhos, e construir junto com eles um futuro melhor para nossos povos; para lutar por um comércio justo entre as nações e pela paz entre os povos. Voltamos para ajudar a construir uma ordem mundial pacífica, assentada no diálogo, no multilateralismo e na multipolaridade. Voltamos para propor uma nova governança global. O mundo de hoje não é o mesmo de 1945. É preciso incluir mais países no Conselho de Segurança da ONU e acabar com o privilégio do veto, hoje restrito a alguns poucos, para a efetiva promoção do equilíbrio e da paz. Quero dizer que não existem dois planetas Terra. Somos uma única espécie, chamada humanidade, e não haverá futuro enquanto continuarmos cavando um poço sem fundo de desigualdades entre ricos e pobres”, disse.
Lula prometeu priorizar o combate ao desmatamento:
“Não há segurança climática para o mundo sem uma Amazônia protegida. Não mediremos esforços para zerar o desmatamento e a degradação de nossos biomas até 2030. Vamos punir com todo o rigor os responsáveis por qualquer atividade ilegal, seja garimpo, mineração, extração de madeira ou ocupação agropecuária indevida.”
E defendeu a participação dos povos indígenas e dos moradores da Amazônia:
“Os povos originários e aqueles que residem na região amazônica devem ser os protagonistas da sua preservação. Os 29 milhões de brasileiros que moram na Amazônia têm que ser os primeiros parceiros, agentes e beneficiários de um modelo de desenvolvimento local sustentável, não de um modelo que ao destruir a floresta gera pouca e efêmera riqueza para poucos e prejuízo ambiental para muitos.”
O presidente eleito disse que quer ajuda internacional sem abrir mão de soberania:
“Estamos abertos à cooperação internacional para preservar nossos biomas, seja em forma de investimento ou pesquisa científica, mas sempre sob a liderança do Brasil, sem jamais renunciarmos à nossa soberania. A meta que vamos perseguir é a da produção com equilíbrio, sequestrando carbono, protegendo a nossa imensa biodiversidade, buscando a regeneração do solo em todos os nossos biomas e o aumento de renda para os agricultores e pecuaristas.”
Lula propôs ainda uma aliança para o combate à fome no mundo:
“Não precisamos desmatar sequer um metro de floresta para continuarmos a ser um dos maiores produtores de alimentos do mundo. Este é um desafio que se impõe a nós, brasileiros, e aos demais países produtores de alimentos. Por isso estamos propondo uma aliança mundial pela segurança alimentar, pelo fim da fome e pela redução das desigualdades, com total responsabilidade climática.”
E colocou o Brasil à disposição da ONU para receber na Amazônia a COP30, de 2025:
“E eu quero aqui de público dizer que eu vou defender de forma veemente que a COP seja realizada num estado amazônico para que as pessoas que defendem tanto a Amazônia tenham noção da importância dessa parte do mundo que nós possivelmente sozinhos não teremos forças nem dinheiro para cuidar como merece ser cuidada.”
Lula disse que vai aproveitar a presidência brasileira do G20, em 2024, para cobrar o cumprimento de promessas.
“Eu não voltei para fazer o mesmo que eu já tinha feito. Eu voltei para fazer mais, e por isso esperem um Lula muito mais cobrador para que a gente possa fazer um mundo efetivamente mais justo e um mundo humanamente melhor para todos nós.”
“Lula se colocou com um cobrador dos países ricos, ao mesmo tempo em que sinalizou uma intenção de resgatar o protagonismo do Brasil no debate climático internacional, e isso é um excelente começo, mas agora é que virão os desafios. Então, nós, da sociedade civil, vamos seguir fazendo o papel que a gente sempre fez, de cobrar, dessa vez, do cobrador, o cumprimento desses compromissos assumidos”, afirmou Luiza Lima, assessora de Políticas Públicas do Greenpeace Brasil.
fonte: Jornal Nacional