Mundo assiste ao começo de segunda Guerra Fria, dizem analistas políticos

Ação militar russa contra a Ucrânia inaugurou uma nova era nas relações internacionais. Jornal Nacional foi ouvir especialistas que explicam o papel das principais potências nesse cenário.

“Consequências como jamais viram na história”: foi a ameaça de Putin para os países que tentassem deter a ofensiva militar na Ucrânia. Essa ameaça, seguida da invasão, sela o começo de uma nova era segundo especialistas ouvidos pelo Jornal Nacional. Uma nova divisão do mundo, com dois blocos, que está sendo chamada de a segunda Guerra Fria.

De acordo com a diretora do Centro de Assuntos Globais da New York University, Carolyn Kissane, a nova ordem tem, de um lado, os governos autoritários da China e da Rússia e, de outro, governos democráticos que, entre si, têm dificuldade de se entender.

Segundo o cientista político Ian Bremmer, especialista em risco político global, essa é ainda mais perigosa porque é uma guerra em que há muitas possibilidades de criar incerteza e instabilidade na nova ordem mundial.

A primeira Guerra Fria, na segunda metade do século XX, deixou o mundo no meio de uma onda de ameaças entre Estados Unidos e a então União Soviética. Além de ser uma corrida para ver quem tinha mais potencial de guerra, explícito principalmente no arsenal atômico, era uma disputa que envolvia guerra psicológica, espionagem, propaganda, que polarizava o mundo entre dois lados: comunismo e capitalismo – e suas áreas de influência.

O professor John Randolph, diretor do Centro de Estudos sobre Rússia da Universidade de Illinois, lembra que, agora, Rússia tem menos poder econômico do que tinha a União Soviética. Mas tanto a Rússia quanto a China estão muito mais conectadas à economia mundial do que no século passado.

Todos nós dependemos de produtos chineses. O gás natural russo é fundamental para o aquecimento da Europa, os fertilizantes fundamentais para o agronegócio no Brasil. Ou seja, uma desconexão de Rússia e China tem impacto direto no nosso bolso.

Além disso, o mundo agora está conectado à internet. Segundo Ian Bremmer, os ataques virtuais serão mais constantes nessa nova ordem, e a interferência na política global espalhando desinformação também.

Putin também já mostrou que está preparado para mudar o desenho da segurança da Europa, que está em vigor desde o fim da Guerra Fria, com a expansão da influência dos países ocidentais sobre o antigo bloco comunista. O presidente russo acredita que o colapso da União Soviética foi a maior tragédia geopolítica do século XX e quer reconduzir a Rússia a um status de superpotência.

O professor Randolph afirma que a invasão da Ucrânia é um ataque ao mundo todo, ao sistema financeiro, aos mercados, a instituições multilaterais – como a organização das Nações Unidas – e, principalmente, às democracias, porque as sanções à Rússia devem levar à alta da inflação pelo mundo.

Ele diz que não sabe se os americanos aceitarão pagar, por exemplo, o aumento do preço da gasolina, e como a Europa irá resolver sua dependência do gás russo. O que coloca os governos democráticos em xeque, porque dependem de o povo estar disposto a pagar o preço de manterem o equilíbrio dentro de uma nova Guerra Fria.

fonte: Jornal Nacional