Coordenador médico hospitalar relata preocupação com pacientes do interior que buscam unidades de Salvador sem regulação
O coordenador médico hospitalar de Salvador, Ivan Paiva, relatou em entrevista ao Jornal da Manhã desta quinta-feira (9) preocupação com pacientes do interior da Bahia que buscam atendimento médico em unidade de Salvador.
Segundo dados da prefeitura da capital baiana, nos últimos dois meses, 728 pessoas do interior do estado foram internadas em Salvador para receber tratamento para o coronavírus. Até a última terça-feira (7), Salvador registrava uma taxa de ocupação de 79% dos leitos de UTI para Covid-19.
“É um problema que existia antes da Covid. Todas as unidades de pronto-atendimento de Salvador sempre receberam um grande número de pacientes, principalmente da região metropolitana, dos municípios limítrofes. O que nos preocupa é o envio desordenado. Muitas vezes o paciente é colocado dentro de uma ambulância sem o aparato necessário, e muitos pacientes também vêm em veículos particulares, propiciando um risco”, disse Paiva
“Quando o paciente vem sem o processo regulatório, ele vem para uma unidade que a gente não sabe se está apta a recebê-lo, devido ao perfil de complexidade. Ele vem de uma forma desordenada. Quando ele aguarda no município pela regulamentação, vem diretamente para o leito próprio, seja de enfermaria ou UTI”, completou.
Segundo Ivan Paiva, o procedimento normal para que esses pacientes recebam atendimento é por meio da regulação. Eles são avaliados no município de origem e, se houver necessidade, são transferidos para hospitais na capital baiana que possuem unidades de referência para tratamento da doença.
O coordenador médico hospitalar de Salvador afirmou que até mesmo Unidades de Pronto Atendimento (UPA) de bairros mais próximos de municípios da região metropolitana são afetados. Paiva reforçou que o ideal seria que o paciente aguardasse na cidade de origem, para ser transferido da forma adequada, o que minimiza os riscos.
“Os pacientes estão sendo regulados. Muitos profissionais, por acharem que o paciente não será regulado, colocam ele na ambulância, orientam que eles venham em demanda própria, de carro. Isso os expõe ao risco. O paciente pode agravar durante o transporte e corre o risco de morrer. O ideal é que fique em assistência médica no seu município de origem, sob oxigenoterapia. No carro ele vem sem oxigênio, sem o cuidado de um profissional de saúde. O paciente acolhido em sua unidade e aguardando na tela de regulação, será identificado um leito e uma ambulância apropriada, e ele chegará ao seu destino de forma segura, minimizando riscos”, salientou.
A subsecretária estadual de Saúde, Tereza Paim, admitiu que alguns pacientes deixam as cidades do interior ou da região metropolitana para buscar atendimento em Salvador por meios próprios. Ela classificou o comportamento como “escapes”, mas ponderou que a prática é reproduzida por uma minoria.
“Sempre trabalhamos para que o transporte seja sanitário, com condições adequadas e leitos assegurados. Mas temos escapes. Não podemos dizer que não temos. Mas os pacientes Covid, reitero, na maioria das vezes têm ficado no município e são trazidos para Salvador em transporte sanitário. É preciso entender que Salvador faz parte da região Leste, é uma macrorregião. Simões Filho, Candeias, São Sebastião, esses municípios circunvizinhos vêm para esses leitos. Estamos ampliando os leitos nesses municípios também. A própria Feira de Santana, que é metrópole praticamente, é muito grande, também manda pacientes para cá, mas eles vêm em transporte sanitário”, declarou.
A prefeitura de Salvador tenta reduzir a pressão sobre os leitos de UTI, já que a taxa será utilizada para permitir a flexibilização das atividades na cidade.
Para que a primeira fase do plano de reabertura entre em vigor, será preciso manter a taxa de ocupação dos leitos de terapia intensiva abaixo de 75% por pelo menos cinco dias seguidos. Para alcançar o número, prefeitura e governo anunciaram a abertura de 75 novos leitos até o fim do mês.